Sacramento de Cura

 Classificado como um “sacramento de cura” ao lado da Confissão, ele é destinado a conceder graça especial aos fiéis que estão gravemente doentes, idosos ou em perigo de morte devido a uma condição de saúde. O objetivo principal não é apenas a cura física (embora isso possa ocorrer se for da vontade de Deus), mas sobretudo o fortalecimento espiritual, o perdão de pecados e a união dos sofrimentos do doente com a Paixão de Cristo.

De acordo com o CIC, esse sacramento é uma continuação da missão de cura de Jesus, que durante seu ministério terreno curou os doentes e perdoou pecados (como em Marcos 2:1-12, onde Ele cura o paralítico e diz: “Filho, os teus pecados estão perdoados”). Ele não é um “rito de morte” exclusivo, como muitos pensam erroneamente, mas um gesto de graça para viver ou morrer em paz com Deus. Após o Concílio Vaticano II (1962-1965), o nome mudou de “Extrema Unção” para “Unção dos Enfermos” para enfatizar seu aspecto de cura e não apenas de preparação para a morte, ampliando sua aplicação para situações de doença grave, não necessariamente terminal.

Imagine um idoso com uma doença crônica como o câncer ou alguém se recuperando de uma cirurgia arriscada, esse sacramento os ajuda a enfrentar o sofrimento com fé, transformando a dor em uma oportunidade de santificação. É um gesto de consolo divino, lembrando que Deus está presente nos momentos de fraqueza humana.

A base principal para este sacramento encontra-se na Epístola de Tiago, que é considerada o texto fundante pela Igreja Católica. Vamos citar e analisar também algumas outras passagens:

  • Tiago 5:14-15Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente, e o Senhor o porá de pé, e, se tiver cometido pecados, estes serão perdoados. Confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados. A oração fervorosa do justo tem grande poder.”

Aqui, Tiago instrui os cristãos a chamar os “presbíteros” (sacerdotes) para ungir os doentes com óleo, orar e perdoar pecados. Isso reflete diretamente o rito católico: a unção com óleo sagrado, a oração e a absolvição. A Igreja vê isso como uma continuação da autoridade dada por Jesus aos apóstolos para curar (Marcos 6:13: “Eles expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes, ungindo-os com óleo”).

  • Marcos 6:7-13: Jesus envia os Doze apóstolos, e eles “ungiram com óleo muitos doentes e os curavam”. Isso mostra o uso do óleo como sinal de cura espiritual e física, uma prática que a Igreja adotou desde os primeiros séculos.
  • Outras Referências Indiretas: Em Isaías 61:1-3, há profecias sobre o Messias que “unge” os aflitos com óleo de alegria, ecoando o papel de Cristo como o Ungido (Cristo significa “ungido” em grego). No Novo Testamento, Jesus cura doentes (como em Mateus 8:14-17) e delega essa autoridade à Igreja (João 20:23: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são perdoados”).

Essas passagens não descrevem o sacramento exatamente como é praticado hoje, mas fornecem o fundamento teológico. A Igreja interpreta que Jesus instituiu os sacramentos de forma implícita, e a tradição apostólica os desenvolveu. Não há uma “prova direta” como na Eucaristia (com a Última Ceia), mas a prática é atestada nos escritos dos Padres da Igreja, como Orígenes e Tertuliano, desde o século II.

A Unção dos Enfermos tem raízes antigas e evoluiu ao longo dos séculos. Vamos traçar uma linha do tempo detalhada para contextualizar:

  • Idade Apostólica (Século I): Baseada em Tiago 5, os primeiros cristãos ungiam os doentes com óleo abençoado, combinando oração e imposição de mãos. Era uma prática comunitária, não necessariamente reservada a sacerdotes.
  • Idade Patrística (Séculos II-V): Documentos como a “Tradição Apostólica” de Hipólito (século III) descrevem a bênção do óleo para os doentes. Santo Ambrósio e São João Crisóstomo enfatizavam seu poder de cura espiritual.
  • Idade Média (Séculos V-XV): Tornou-se conhecido como “Extrema Unção”, administrado principalmente aos moribundos como “viático” (preparação para a jornada final). O Concílio de Trento (1545-1563) definiu-o como sacramento, confirmando sua instituição por Cristo e seus efeitos: alívio do sofrimento, perdão de pecados e, se possível, restauração da saúde.
  • Era Moderna e Vaticano II (Século XX): O Concílio Vaticano II reformou o rito, ampliando-o para qualquer doença grave (não só terminal) e permitindo repetições. O Papa Paulo VI enfatizou que é um sacramento para os vivos, não só para os moribundos, integrando-o melhor à vida pastoral da Igreja.

Hoje, em contextos como hospitais católicos ou paróquias, é comum celebrar missas com unção coletiva para idosos ou doentes, promovendo uma abordagem comunitária e menos “fúnebre”.

O rito é simples, mas profundo, e pode ser administrado por um sacerdote (bispos e padres). Aqui vai um passo a passo detalhado, baseado no Ritual Romano:

  • Preparação: O doente ou familiares chamam o padre. Pode incluir uma confissão prévia para reconciliação total.
  • Liturgia da Palavra: Leitura de passagens bíblicas, como Tiago 5 ou salmos de consolo (ex: Salmo 23: “O Senhor é o meu pastor”).
  • Imposição de Mãos: O sacerdote impõe as mãos sobre a cabeça do doente, invocando o Espírito Santo, simbolizando a transmissão de graça.
  • Unção com Óleo: Usa-se o Óleo dos Enfermos (abençoado pelo bispo na Missa do Crisma, na Quinta-Feira Santa). O padre unge a testa e as palmas das mãos, dizendo: “Por esta santa unção e pela sua piíssima misericórdia, o Senhor te perdoe todo o pecado que cometeste pelo olhar, pelo ouvir…” (adaptado para o rito atual, enfatizando misericórdia).
  • Oração de Fé: Orações pedindo cura, força e perdão. Se possível, o doente recebe a Eucaristia como viático.
  • Conclusão: Bênção final. O rito pode ser adaptado para emergências, como em UTIs, onde é mais breve.

Em culturas latinas, como no Brasil, é comum integrar elementos devocionais, como orações à Virgem Maria ou santos padroeiros da saúde (ex: São Rafael).

Qualquer católico batizado que tenha atingido a idade da razão (cerca de 7 anos) e esteja em estado de doença grave, velhice avançada ou antes de uma cirurgia perigosa. Não é para doenças leves, como um resfriado. Pode ser recebido múltiplas vezes, sempre que a condição piorar. Não é exclusivo para a morte iminente; por exemplo, alguém com Alzheimer pode recebê-lo anualmente. Apenas sacerdotes ordenados, pois envolve o perdão de pecado. Se o doente estiver inconsciente, o sacramento ainda é válido, presumindo-se a intenção de fé.

Os efeitos são multifacetados, conforme o CIC:

  • Fortalecimento Espiritual: Dá coragem para suportar o sofrimento, unindo-o à Cruz de Cristo (Colossenses 1:24).
  • Perdão de Pecados: Absolve pecados veniais e, se houver contrição, mortais (sem necessidade de confissão verbal se o doente não puder).
  • Cura Física: Se for da vontade de Deus, pode haver melhora ou cura milagrosa, como em relatos de santos (ex: milagres em Lourdes).
  • Preparação para a Morte: Concede paz para a passagem eterna, transformando a morte em “dormir no Senhor” (1 Tessalonicenses 4:14).

Psicologicamente, estudos teológicos e pastorais mostram que ele reduz a ansiedade e promove aceitação, integrando fé e saúde. Esse sacramento é crucial porque reconhece a fragilidade humana e a redenção através do sofrimento. Em uma era de avanços médicos, ele complementa a ciência, lembrando que a cura total vem de Deus. Na Igreja, promove a “cultura da vida”, valorizando os doentes e idosos (como na encíclica Evangelium Vitae de João Paulo II).

Durante a pandemia de COVID-19, muitos sacerdotes arriscaram a vida para ungir pacientes em hospitais, destacando o sacramento como ato de misericórdia. Santos como São João da Cruz ou Santa Teresa de Calcutá viram no sofrimento uma via de santidade, inspirada nessa unção.

Não é “mágico” nem garante cura; não é só para católicos “perfeitos” – é para todos os fiéis arrependidos. Equívocos incluem confundi-lo com curandeirismo; a Igreja enfatiza que é um sinal de fé, não superstição.

A Unção dos Enfermos se conecta aos demais, especialmente aos de cura:

  • Com a Confissão: Muitos recebem ambos juntos para reconciliação completa.
  • Com a Eucaristia: Frequentemente seguido do Viático (última Comunhão).
  • Com a Iniciação Cristã: Completa o ciclo para quem está no fim da vida, reforçando o Batismo.
  • Diferenças com a Ordem e o Matrimônio: Enquanto esses são de serviço, a Unção é de cura e consolo.

Em comparação com tradições protestantes, muitas não o veem como sacramento, mas como oração pelos doentes, sem óleo ritual.

Mitos, Equívocos e Perguntas Frequentes:

  • Mito: É só para quem vai morrer logo. Realidade: Pode ser para qualquer doença grave.
  • Pergunta: E se eu me recuperar? Pode receber novamente se piorar.
  • Mito: Substitui o médico. Não; a Igreja incentiva tratamentos médicos.

Em resumo, o sacramento da Unção dos Enfermos é um dom de misericórdia divina para os momentos de vulnerabilidade, enraizado em Tiago 5 e na tradição da Igreja. Ele oferece cura espiritual, perdão e força, transformando o sofrimento em graça:

  • Base Bíblica: Tiago 5:14-15 como texto central.
  • Efeitos: Fortalecimento, perdão e possível cura.
  • Importância: Une o doente a Cristo, promovendo dignidade na doença e na morte.

Fiquem com Deus!!!!

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